Leia o Texto I, abaixo, para responder às questões de 1 a 4. Assim que o vapor Congo l...

Leia o Texto I, abaixo, para responder às questões de 1 a 4.

Assim que o vapor Congo lançou âncoras, naquela manhã de 22 de agosto de 1888, um velho de olhar difuso e bastas barbas brancas pisou, titubeante, na pedra do porto do Rio de Janeiro – o mesmo porto sujo, infecto e obsoleto de onde ele havia zarpado rumo à Europa para tratar da diabetes, da anemia e de problemas cardíacos. Treze meses haviam se passado e D. Pedro II estava de volta porque era preciso cuidar da saúde da monarquia. Ambos, imperador e império, exibiam uma imagem fragilizada e um corpo cansado. E os elixires e “remédios secretos”, anunciados pelos jornais ou em praças públicas, não pareciam capazes de recuperar o vigor dos áureos tempos em que ele fora chamado de “monarca-mecenas” e o Brasil desfrutara das benesses trazidas pelo café

D. Pedro continuava despertando a simpatia popular, tanto é que seria recebido com vivas e urras, ali mesmo no porto. Mas sua figura, abatida pela doença e desgastada pelos embates políticos, fazia com que ele mais parecesse um fantasma da realeza do que um real governante. Não havia remédio que pudesse salvar o império.

Naquele melancólico crepúsculo da monarquia, o Brasil já era um vasto hospital, como diria, uma década mais tarde, o médico Miguel Pereira. A precariedade das condições sanitárias e os próprios hábitos da população, além da ineficiência e descaso do governo nas questões de saúde, faziam com que doenças infectocontagiosas, para as quais não havia cura, se espalhassem por todo o território nacional com rapidez espantosa. E, algumas delas, tinham começado a se disseminar justo a partir daquele porto no qual D. Pedro II acabava de desembarcar.

De fato, 38 anos antes, no verão de 1850, uma devastadora epidemia de febre amarela havia chegado à zona portuária do Rio de Janeiro. Em apenas cinco meses, a doença (então chamada “vômito negro”) vitimou quase dez mil pessoas. Embora trágico, o surto acabaria sendo responsável por uma guinada na história do sanitarismo no Brasil, pois foi em função dele que o ministério do Império decidiu nomear, em fevereiro de 1850, uma Comissão Central de Saúde Pública. E tal comissão tornou-se o embrião da Junta Central de Higiene Pública, criada em 20 de setembro de 1851.

Foi da Junta Central de Higiene que partiram as primeiras medidas concretas, visando fiscalizar a propaganda de medicamentos no Brasil. E é natural que assim fosse, pois a instituição havia sido criada graças às pressões da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, associação que, desde a sua fundação, em junho de 1829, lutava para regulamentar não só o exercício da medicina, mas a fabricação e a comercialização de medicamentos no Brasil, bem como os reclames que anunciavam seus supostos poderes curativos.

BUENO, Eduardo. Vendendo Saúde: história da propaganda de medicamentos no Brasil. (Com adaptações) Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2008. (Série I. História da Saúde).

Leia o Texto II, abaixo, para responder às questões de 5 a 8.

A saúde e o fenômeno da cura têm tido significados diferentes conforme a época. O conceito de saúde, tal como o conceito de vida, não pode ser definido com precisão; os dois estão, de fato, intimamente relacionados. O que se entende por saúde depende da concepção que se possua do organismo vivo e de sua relação com o meio ambiente. Como essa concepção muda de uma cultura para outra, e de uma era para outra, as noções de saúde também mudam. O amplo conceito de saúde necessário à nossa transformação cultural – um conceito que inclui dimensões individuais, sociais e ecológicas – exige uma visão sistêmica dos organismos vivos e, correspondentemente, uma visão sistêmica de saúde. Para começar, a definição de saúde dada pela Organização Mundial da Saúde poderá ser útil: “A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doenças ou enfermidades”.

Embora a definição da OMS seja algo irrealista – pois descreve a saúde como um estado estático de perfeito bem-estar, em vez de um processo em constante mudança e evolução –, ela revela, não obstante, a natureza holística da saúde, que terá de ser apreendida se quisermos entender o fenômeno da cura. Ao longo dos tempos, a cura foi praticada por curandeiros populares, guiados pela sabedoria tradicional, que concebia a doença como um distúrbio da pessoa como um todo, envolvendo não só seu corpo como também sua mente, a imagem que tem de si mesma, sua dependência do meio ambiente físico e social, assim como sua relação com o cosmo e as divindades. Esses curandeiros, que ainda tratam a maioria dos pacientes no mundo inteiro, adotam muitas abordagens diferentes, as quais são holísticas em diferentes graus, e usam uma ampla variedade de técnicas terapêuticas. O que eles têm em comum é que nunca se restringem a fenômenos puramente físicos, como ocorre no modelo biomédico. Através de rituais e cerimônias, tentam influenciar a mente do paciente, aliviando a apreensão, que é sempre um componente significativo da doença, ajudando-o a estimular os poderes curativos naturais que todos os organismos vivos possuem. Essas cerimônias de cura envolvem usualmente uma intensa relação entre o curandeiro e o paciente, e são frequentemente interpretadas em termos de forças sobrenaturais canalizadas através do primeiro.

CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 1999.

Levando em consideração os textos I e II, como um todo, e as orientações da prescrição gramatical no que se refere a textos escritos na modalidade padrão da Língua Portuguesa, assinale a alternativa correta.

A

No trecho: “o Brasil desfrutara das benesses trazidas pelo café”, do texto I, a primeira palavra destacada significa lucros financeiros e a segunda foi acentuada por ser oxítona terminada em -e.

B

As palavras “remédio”, “império” e “portuária”, do texto I, foram todas acentuadas pelo mesmo motivo. Infere-se por meio do termo “monarca-mecenas” que D. Pedro II oferecia apoio às ciências e às artes.

C

As palavras “fenômeno” e “holísticas”, do texto II, foram acentuadas pelo mesmo motivo. A segunda se refere, semanticamente, a fenômenos sobrenaturais.

D

No trecho: “Embora a definição da OMS seja algo irrealista – pois descreve a saúde como um estado estático de perfeito bem-estar”, do texto II, a palavra destacada pode ser substituída por “extático”, sem que ocorra prejuízo semântico.

E

As palavras “saúde”, “públicas” e “crepúsculo”, do texto I, e “útil”, do texto II, foram todas acentuadas pelo mesmo motivo. No texto, a última das três, utilizada em sentido figurado, tem o mesmo valor semântico de prelúdio.