O recurso do discurso indireto livre, que se caracteriza por misturar as vozes do narrador e das personagens sem demarcar precisamente seus limites, foi empregado com ênfase ao longo do romance Vidas secas.
A respeito desse procedimento linguístico presente no fragmento destacado, é possível afirmar que
na frase “Menino é bicho miúdo, não pensa” (linhas 18 e 19), o emprego do discurso indireto livre traduz o estado mental da personagem conservando a vivacidade do estilo direto.
a frase “Em que estariam pensando?” (linhas 17 e 18), atribuída a sinha Vitória, empregada desvinculadamente do verbo dicendi, exemplifica o discurso indireto livre.
a manutenção do registro da fala de sinha Vitória “Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias” (linhas 13 e 14), transcrita em seu próprio nome, confirma a aproximação da voz do narrador com a voz da personagem, que se confundem.
em “Por que haveriam de ser sempre desgraçados, fugindo no mato como bichos?” (linha 13), a manutenção da interrogação na sua forma originária afasta a identificação do narrador com a personagem, típica do discurso indireto livre.