Meu amigo Pedro Nava, ou melhor, o Dr. Pedro Nava, é um grande poeta brasileiro que também é médico. Um olho clínico, como dizem seus colegas. E eu digo amém, porque Pedro Nava é o meu médico. Já me diagnosticou uma apendicite, e guardo bem a lembrança – a última lembrança ao ser anestesiado – de seu olho clínico posto em tristeza diante da possibilidade de um trespasse meu. Pedro Nava, sendo como é meu amigo, contou-me mais tarde o medo que tivera que eu morresse, não tanto porque fosse seu paciente, mas porque era seu amigo. É verdade que se morre muito nesse negócio de operação, por mais que o cirurgião seja hábil, como era no meu caso. Tive um medo póstumo, quando o poeta me fez ver essa possibilidade.
À luz da compreensão do texto Encontros, como um todo, pode-se inferir com segurança e CORRETAMENTE que:
o Dr. Pedro Nava participou do procedimento cirúrgico, donde seu semblante naquele momento ser a "última lembrança" do enunciador do texto "ao ser anestesiado"
sentido próprio do adjetivo, não houve um "medo póstumo", mas, sim, um medo posterior a não ter morrido, o enunciador do texto, "nesse negócio de operação"
o referido "medo póstumo" não ocorreu após a morte, nem após a cirurgia, mas quando o enunciador do texto conscientizou-se de que efetivamente podia ter morrido
o enunciador do texto, ingenuamente, submeteu-se à cirurgia com total destemor, concluindo apenas depois que "é verdade que se morre muito nesse negócio de operação, por mais que o cirurgião seja hábil"
por ocasião da cirurgia, o enunciador do texto e seu médico, o Dr. Pedro Nava, viram com igual receio a possibilidade do passamento daquele que ia ser operado