Um pouco de poesia e mistério
Euclides reconheceu, nas reportagens escritas para O Estado de S. Paulo, que havia subestimado a resistência dos sertanejos e sua capacidade de sustentação da luta. Observou, em artigo de 16 de agosto de 1897, que o combate apresentava uma “feição primitiva, incompreensível, misteriosa”. Surpreendia-se que os jagunços, já em número reduzido, aguardassem que o Exército fechasse o cerco da cidade, em vez de fugirem, enquanto ainda lhes restava uma estrada aberta para a salvação.
Euclides procurou esclarecer o mistério, ao defender, em Os sertões, a existência de crenças sebastianistas em Canudos, que permitiriam explicar alguns dos aspectos subterrâneos da guerra, como o apelo da mensagem do Conselheiro e a resistência heróica dos combatentes. O catolicismo devocional presente nos sermões do Conselheiro revela, porém, que o sebastianismo pode ter sido menos difundido do que Euclides supôs.
Machado de Assis já havia enfocado tal feição de mistério, ao escrever sobre Canudos na Gazeta de Notícias. Em crônica de 22 de julho de 1894, comparava, com bastante humor, os seguidores do Conselheiro aos piratas das canções românticas de Victor Hugo. Deixava-se encantar pelo toque de poesia e mistério que envolvia o líder religioso, [...].
(Roberto Ventura, Euclides da Cunha — Esboço biográfico, Companhia das Letras, 2003. p. 209-210
Marque a alternativa incorreta quanto ao que se pode inferir do texto acima.
Para Roberto Ventura, o autor da biografia de Euclides da Cunha, o comportamento dos seguidores de Antônio Conselheiro ocorria devido ao fervor religioso que os envolvia e os impedia de fugir da cidade de Canudos, mesmo já estando os sertanejos combatentes em número bastante reduzido.
Para Euclides da Cunha, a explicação para o comportamento dos sertanejos seguidores de Antônio Conselheiro durante a guerra de Canudos é explicada pelas crenças sebastianistas existentes naquele contexto geográfico e histórico.
Para Machado de Assis, o autor da biografia de Euclides da Cunha afirma que o comportamento dos seguidores de Antônio Conselheiro ocorria devido ao fervor religioso que os envolvia e os impedia de fugir da cidade de Canudos, mesmo já estando em número bastante reduzido.
Euclides da Cunha busca compreender os motivos que induzem os jagunços a permanecerem em Canudos, não vendo a fuga como uma opção viável enquanto ainda tinham a chance.
Segundo o texto, o fato de Roberto Ventura e Euclides da Cunha explicarem o comportamento ilógico dos seguidores de Antônio Conselheiro de maneiras diferentes, um apoiando a teoria do fervor religioso dos jagunços, e o outro apoiando a teoria das crenças sebastianistas não faz com que uma teoria seja excludente da outra dentro daquele contexto geográfico e histórico.