SONETO DE FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
mas que seja infinito enquanto dure.
Estoril, outubro de 1939
(Vinicius de Moraes. Poema presente no livro Poemas,
Sonetos e Baladas, 1946)
Considere as afirmações a seguir:
I – No último terceto do soneto, composto por decassílabos, para conseguir efeito poético, Vinicius de moraes faz uso da figura de linguagem conhecida como “paradoxo”;
II – “Dedicar-me a meu amor será, para mim, mais importante do que qualquer outra coisa. Esse cuidado será eterno, e se dará com tamanha intensidade e com tanto carinho que, mesmo que eu encontre possibilidades mais atraentes, o fascínio por meu amor continuará sendo maior” é uma paráfrase possível para o primeiro quarteto do poema;
III – Nos versos “Que não seja imortal, posto que é chama/mas que seja infinito enquanto dure”, Vinicius de moraes contraria a norma-padrão da Língua Portuguesa ao usar “posto que” com valor explicativo ou causal: as gramáticas tradicionais atribuem à expressão “posto que” valor exclusivamente concessivo. Esse tipo de licença poética aponta para uma valorização, por parte de Vinicius, da língua viva em detrimento da estrita verificação da gramática normativa;
IV – Pode ser afirmado que a ideia central do poema consiste na defesa do caráter imperecível do amor, que deve ser cultivado e mantido ainda que pareça estar prestes a apagar-se, como uma “chama”.
Estão CORRETAS apenas as assertivas:
I, II, III e IV
I e II
III e IV
I, II e III