A Semana de Arte Moderna, em 1922, representou um ponto de encontro de várias tendências artísticas que vinham se formando desde os anos da I Guerra Mundial. Seus desdobramentos resultaram, em boa medida, na publicação de obras literárias fundamentais desse primeiro modernismo, bem como de um extenso aparato crítico, por meio de revistas e manifestos, que iam delimitando subgrupos e consolidando matizes estéticos e ideológicos.
De uma destas revistas, extraiu-se o seguinte excerto da “Carta aberta a Alberto de Oliveira”, de Mario de Andrade, datada de 20 de abril de 1925:
“Estamos fazendo isso: Tentando. Tentando dar caráter nacional prás nossas artes. Nacional e não regional. Uns pregando. Outros agindo. Agindo e se sacrificando conscientemente pelo que vier depois. Estamos reagindo contra o preconceito da fórma. Estamos matando a literatice. Estamos acabando com o dominio espiritual da França sobre nós. Estamos acabando com o dominio gramatical de Portugal. Estamos esquecendo a pátria-amada-salve-salve em favor duma terra de verdade que vá enriquecer com o seu contingente característico a imagem multiface da humanidade. O nosso primitivismo está sobretudo nisso: Arte de intenções práticas [...]”
(Manteve-se a escrita original do texto)
Pela análise do excerto acima, conjugada às reflexões de Alfredo Bosi acerca dos desdobramentos da Semana de Arte Moderna, é correto afirmar que o trecho, extraído da carta publicada originalmente na Revista
Klaxon, sintetiza as aspirações do projeto estético de Mário de Andrade, enfatizando os traços nacionais atrelados à preocupação social, elementos que se materializariam nas produções posteriores do autor.
Estética, aponta para as dicotomias existentes dentro do próprio movimento modernista, cuja matriz estética ora pende para uma formulação “futurista”, ora adere ao “primitivismo”.
Estética, demonstra a defesa de Mário de Andrade de uma arte “interessada” para os países que estão principiando seu roteiro dentro da cultura moderna.
Klaxon, revela as incongruências do grupo modernista com a estética parnasiana do “mestre alienado” que acabara de ser eleito “príncipe dos poetas brasileiros”.