Leia o relato do naturalista Charles Darwin em sua passagem por terras brasileiras no século XIX:
“(...)É notório este lugar, pelo fato de ter sido, durante muito tempo, o quilombo de alguns escravos fugidos que, cultivando pequeno terreno próximo à vertente, conseguiram suprir-se do necessário sustento. Mas foram, um dia, descobertos e reconduzidos dali por uma escolta de soldados. Uma velha escrava, no entanto, preferindo a morte à vida miserável que vivia, lançou-se do alto do morro, indo despedaçar-se contra as pedras da base. Se se tratasse de alguma matrona romana, esse gesto seria interpretado como nobilitante amor à liberdade, mas, numa pobre negra, não passava de simples caturrice de bruto.” (Darwin, 1871, p. 7).
A passagem acima indica que:
o racismo é também um conjunto de disposições, esquemas de percepção e estratégias de ação – ou seja, um aspecto do habitus – que reforça e legitima a dominação racial.
grupos que racializam outros de maneira negativa tendem a trair os ideais que formam o conjunto de heranças culturais ocidentais.
os ideais ingleses de liberdade, apesar de difundir os ideais do anti-escravismo, foram incapazes de inibir a prática do tráfico negreiro e seus males.
o habitus racial do grupo minoritário se reproduz pela internalização das divisões raciais do mundo social, o que implica na impossibilidade de mudanças e reformulações no processo de reprodução.
podemos presumir que toda e qualquer desigualdade racial é consequência do racismo e a continuação de tais diferenças em longo prazo sugerem fortemente a operação de algum tipo de discriminação racial.