Segundo Roberto DaMatta, o uso da expressão “Quem
você pensa que é?”, no Brasil, seria uma variação de “Você
sabe com quem está falando?”. Segundo o autor, essa
sentença expressa uma sociabilidade inerente a um sistema
de crenças no qual pessoas se relacionam de forma
hierárquica e desigual. Nos Estados Unidos, porém, a mesma
expressão – “Who do you think you are?”- teria efeito oposto.
Isso se verifica, segundo o antropólogo brasileiro, por que:
A
no Brasil, a pergunta é privilegiada nos planos
interacionais, em função de que sua veiculação possui
forte caráter inquisitivo. É considerado um traço
agressivo, que deve ser utilizado quando queremos
“derrubar alguém”.
B
no Brasil, quem usa a expressão é quem se acha
superior. Nos Estados Unidos, quem se utiliza dela é
aquele que é atingido pela pretensão autoritária.
C
no Brasil a expressão reivindica a igualdade entre os
atores, em termos discursivos, enquanto nos Estados
Unidos ela sinaliza a existência de uma desigualdade
econômica dissimulada.
D
nos Estados Unidos, a identificação das identidades no
espaço público é fundamental para iniciar-se o
relacionamento entre indivíduos; diferentemente, a
interação entre pessoas, no Brasil, prescinde de tais
identificações.
E
a expressão, nos Estados Unidos, busca cancelar o
status inerente a uma sociedade de consumo; no Brasil,
ela chama a atenção para a desigualdade fictícia em meio
a precariedade material da sociedade brasileira, em
comparação com o primeiro mundo.