No livro “Música Popular na América Latina: pontos de escuta”, o etnomusicólogo Samuel Araújo conta sobre a sua experiência de pesquisa no complexo da Maré, conjunto de bairros populares e favelas do Rio de Janeiro. A partir de pesquisa com moradores locais, o autor afirma que “na paisagem sonora da Maré, foram identificados gêneros definidos inicialmente como pagode, forró, rock, reggae, gospel (música popular evangélica) e o funk (incluindo o assim chamado “proibidão”, ligado à apologia do tráfico de drogas), mas também abrangendo a música apreciada por segmentos minoritários, como o pop africano ouvido pelos mais de dez mil angolanos da região. [...] Registre-se ainda [...] que os exemplos de violência abordados nos debates estão frequentemente associados aos sons significativos de suas variadas manifestações, as referências específicas podendo variar do volume de um alto-falante de entidade religiosa tentando “abafar” o ruído amedrontador da luta armada até rajadas de metralhadora em meio a um baile funk (bailes ao som de música eletrônica aproximada ao “Miami Bass”, com ou sem performances de duplas de MCs, e que congregam majoritariamente a juventude pobre e marginalizada do Rio de Janeiro). Isso torna particularmente mais relevante a ênfase na categoria “som” do que em noções, mesmo as mais elásticas e abrangentes, de “música”, ao se tratar de mapeamento do contínuo entre criação e a experiência mediadas pelo som” (ARAÚJO, 2005, p. 203-205).
Considerando a descrição sobre a “paisagem sonora” da Maré, é possível afirmar que o que melhor define o posicionamento do autor é:
Os sentidos dos sons transformam-se e podem ser acionados de formas diferentes apenas com o passar do tempo; a paisagem sonora da Maré é composta apenas pelos gêneros musicais identificados.
Os sentidos dos sons são unicamente atribuídos a partir de opiniões pessoais; a paisagem sonora da Maré é composta por sons que remetem, sobretudo, à violência.
Os sentidos dos sons variam e podem ser acionados de formas diferentes conforme o contexto; em alguns contextos, a categoria “música” não é suficiente para os sons significativos das manifestações.
Os sentidos dos sons têm diferenças de uma geração para outra; a paisagem sonora da Maré mostra, sobretudo, diversidade musical.
Os sentidos dos sons na Maré são variados; a criação e experiência mediada pelo som é sempre musical.