A Fábula da Ecologia e do Tracajá
Navegando em uma remota região de um país que sonhava crescer, a Ecologia sentia o drama de viver a destruição de imensas florestas tropicais, pela fúria do fogo e a incapacidade humana. Seguindo há vários dias entre rios, paranás e igarapés, a fauna e flora local, somando-se à tranquilidade de águas negras e límpidas, como a própria expressão da vida natural, a Ecologia tinha certeza que suas verdades seriam inquestionáveis pela simples razão de existirem.
Ao parar no fim de mais um dia, em um tranquilo braço de rio, brilhando ainda sob a última luz do sol poente, a Ecologia resolveu ir até uma pequena casa que se avistava ao longe, à primeira vista em muitos dias.
Desembarcando, observou as paredes de toro encostados, cobertos pela palha característica da região, e chegou próxima ao jovem morador, que preparava sua primeira refeição do dia, após o árduo trabalho entre seringueiras e castanheiras.
Observando melhor a panela de barro do jantar, viu que o jovem preparava um tracajá, tartaruga típica do local e que se encontrava em perigo de extinção pelo seu abate indiscriminado.
Indignada, mas sábia, a Ecologia perguntou ao jovem:
– Você sabe o que está comendo?
– Sim, um tracajá.
Tentando encontrar um melhor caminho para resolver a questão, a Ecologia falou:
– Olhe, o tracajá é um animal protegido, inclusive o governo gasta muito dinheiro para conservar a espécie. Além disso, a lei determina que você pode ser preso por crime.
Mas, pela lógica de que o processo deve evoluir, completou:
– Não vou lhe prender. Prefiro que você seja educado e entenda que se você comer este tracajá, no futuro seus filhos não vão mais ver tracajás nos rios.
E o jovem confuso respondeu:
– Mas, eu não entendo, se eu não comer o tracajá eu não vou ter filhos!!!
(Disponível em http://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/textos_educativos. Acessado em: 10 dez. 2009.)
A partir do final da década de 1980, o conceito de desenvolvimento sustentável passa a ser amplamente difundido, depois da publicação, em 1987, pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, do documento intitulado “o nosso futuro comum”, definindo-o como o processo que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
A fábula apresentada acima sugere que a noção de desenvolvimento sustentável implica, entre outros fatores:
a preservação incondicional dos recursos naturais como forma de garantir a manutenção da biodiversidade, um dos princípios fundamentais da sustentabilidade.
a necessidade de redução das desigualdades econômico-sociais como princípio fundamental de sustentabilidade.
a utilização intensiva dos recursos naturais como forma de promover o desenvolvimento econômico e superação das desigualdades sociais.
o fato de que se faz necessária a retirada das comunidades humanas de áreas florestais e santuários ecológicos como forma de preservar a biodiversidade.
o fato de que o desenvolvimento sustentável só será alcançado mediante a adoção de leis, cada vez mais rígidas, que proíbam a caça de animais em extinção.