Vista popularmente como guerra contra todos os privilégios, a ideologia prática da Revolução Russa devia menos a Marx – cujas obras mal eram conhecidas pelas massas semianalfabetas – e mais aos costumes igualitários e anseios utópicos do campesinato. Muito antes de ser escrita por Marx, o povo russo vivera segundo a ideia de que o excesso de riqueza era imoral, que toda propriedade era roubo e que o trabalho manual era a única fonte verdadeira de valor.
(FIGES, Orlando. Uma história cultural da Rússia. Rio de Janeiro: Record, 2017, p.528)
O texto remete à origem popular do impulso revolucionário, presente na Rússia do início do século XX. Esse impulso
foi decisivo para definir o caráter moderado das reformas políticas e institucionais, promovidas pela Revolução de fevereiro de 1917, as quais eliminaram o absolutismo e introduziram uma monarquia constitucional.
contribuiu para a ascensão de lideranças camponesas do Partido Bolchevique, defensoras de uma divisão mais igualitária da propriedade rural. Esse fato deu à Revolução o seu caráter radicalmente contrário a projetos de coletivização da terra.
permitiu aos bolcheviques explorar politicamente, e com sucesso, as aspirações de paz e justiça social presentes no imaginário popular e confundida com o ideal de guerra à riqueza privada.
foi contido pelo sucesso da campanha militar da Rússia contra a Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, fato sucedido pela assinatura do Pacto Germano-Soviético de não agressão.
foi politicamente canalizado e militarmente explorado, de forma mais eficiente, pelos mencheviques contra o regime czarista durante o “Governo Provisório” instaurado em outubro de 1917.