[...] são questionáveis algumas observações de (Fernando) Novais (1986) no que se refere às interpretações das inconfidências, em especial a Mineira. Sua concepção de que as ideias que em Portugal possuíam uma face reformista, quando transpostas a uma situação colonial, ganhavam uma face ‘revolucionária’ nos parece hoje inadequada e mesmo insustentável. [...]
FURTADO, João Pinto. Inconfidências e conjurações no Brasil: notas para um debate historiográfico em torno dos movimentos do último quartel do século XVIII. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima. Coleção O Brasil Colonial, 1720-1821. V. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. p. 647.
Para justificar sua contraposição a Fernando Novais, João Pinto Furtado argumenta, entre outros elementos, que
o baixo nível de alfabetização da região impedia, por si só, a expansão do ideal revolucionário, absolutamente dependente da leitura dos princípios franceses, embora os Autos de Devassa indiquem o confisco de vários livros nas bibliotecas dos inconfidentes.
havia uma crença plantada pelo Conde de Assumar, em 1720, de que o ar de Minas inspirava revoluções e, por isso, todos os governantes enviados pelo rei para a região eram negociadores por natureza, contendo, assim, todo ímpeto revolucionário local.
manifestações populares nas ruas ao som de “viva o rei, viva o povo e morra o govenador” eram especificamente contra o governador Barbacena, não contra o rei, porque este aplicava cegamente as determinações de Lisboa quanto à cobrança dos impostos atrasados.
nomes importantes do movimento mineiro, como Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa e Alvarenga Peixoto, almejavam algumas reformas no sistema, mas restritas à troca de nomes em postos de poder, não alterando os seus pilares.