“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semi-demência do Quincas Borba. Somadas umas cousas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: -- Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
ASSIS, Machado. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ática, 1992
A partir da leitura do trecho da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, não é correto afirmar que:
O narrador encadeia uma série negativas, ligadas, em sua maioria, pelo advérbio “não”.
A frase “Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento.”, é construída a partir da relação sintática entre orações coordenadas assindéticas aditivas.
No trecho “Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semi-demência do Quincas Borba.”, a expressão Mais, que inicia a sentença, pode ser trocada pela conjunção Entretanto, sem alterar o sentido da frase.
O narrador tece um olhar pessimista sobre a humanidade, principalmente quando afirma “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
O narrador utiliza-se, de maneira repetitiva, o advérbio de negação, a fim de reforçar seu discurso, numa relação coerente entre forma e conteúdo.