Tecendo a manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
(In: MELO NETO, João Cabral de. Obra completa: volume único. Org. Marly de Oliveira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.)
Cerca de 30 anos após a realização da Semana de Arte Moderna, a poesia modernista apresenta-se com características que a distinguem da produção dos primeiros modernistas. O poema “Tecendo a manhã”, de João Cabral de Melo Neto, ilustra a afirmação anterior, sendo ele um dos representantes modernistas da geração de 1945. Diante do exposto e considerando os conhecimentos acerca da literatura do período referido, assinale a afirmativa correta.
A temática social passa a ser a preocupação central dos autores, entre eles João Cabral de Melo Neto.
A busca da palavra exata, o cuidado e a preocupação com o fazer literário são retratados no poema metaforicamente.
O abandono do rigor formal é uma das características da poesia da geração da segunda fase modernista no Brasil.
No poema apresentado há uma combinação entre o rigor da composição poética e o tratamento do sofrimento do povo nordestino por causa da seca representada no verso “os fios de sol de seus gritos de galo”.