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Poema de sete facesCarlos Drummond de AndradeQuando nasci, um anjo tortodesses que vive...

Poema de sete faces


Carlos Drummond de Andrade


Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus,

pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.

O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.


Disponível em: <https://www.culturagenial.com/poemas-de-carlos-drummond-de-andrade/>.

Acesso em: 27. ago. 2022.


Sobre o eu-lírico desse poema, é correto afirmar que se chama “Carlos”

A

e parece estar sobressaltado com a vastidão do mundo que observa a seu redor.

B

e, assim como o anjo determinou, foi ser gauche na vida e tem bigode e óculos.

C

e foi trazido ao mundo por um anjo; por isso, não sabe bem como lidar com a humanidade.

D

e seu apelido é “gauche”, e, apesar de ser trazido por um anjo, comove-se como um diabo.

E

e está inconformado com a quantidade de pessoas que andam de bonde e bebem conhaque.