Leia o poema a seguir, extraído do livro “O coração disparado”, de Adélia Prado.
Órfã na janela
Estou com saudade de Deus,
----------uma saudade tão funda que me seca.
----------Estou como palha e nada me conforta.
---------O amor hoje está tão pobre, tem gripe,
----meu hálito não está para salões.
--Fico em casa esperando Deus,
--------------------cavacando a unha, fungando meu nariz choroso,
------------querendo um pôster dele no meu quarto,
gostando igual antigamente
da palavra crepúsculo.------
---------------Que o mundo é desterro eu toda vida soube.
---------------------------Quando o sol vai-se embora é pra casa de Deus que vai,
pra casa onde está meu pai.
Fonte: PRADO, Adélia. Poesia reunida. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2015. p. 158.
Sobre o texto, é INCORRETO afirmar que:
Sentir-se como palha é ter a sensação de leveza, de dádiva divina; trata-se de um estado em que o sujeito se encontra prestes a voar para Deus.
Cavacar a unha e fungar o nariz choroso conotam, respectivamente, um estado de impaciência e sentimentalismo por parte do sujeito feminino.
O desejo de um pôster de Deus no quarto aponta para a necessidade de algo concreto, de algo que possa trazer a lembrança do Ser Divino.
Em todo o poema predominam versos brancos, à exceção dos dois últimos.