TEXTO 1
O Brasil não tem juízo.
Um dos assuntos recorrentes neste país é saber se o Brasil tem jeito. O simples fato de se gastar tempo e energia especulando sobre o tema é uma comprovação da desconfiança que nós, brasileiros, temos com relação à nação em que vivemos. Dizemos que não tem jeito o filho do vizinho que se recusa a estudar; o cunhado que troca horas de trabalho pela sinuca. Não tomar jeito é sinônimo de não amadurecer, de não assumir a idade que se tem e as responsabilidades dela advindas. Na verdade, desconfiamos todos que este nosso país, com milênios de ocupação humana e mais de 500 anos de contato com a civilização ocidental, ainda não tenha atingido sua maturidade. E, o que é pior, parece temermos que nunca venha a atingir.
Como não somos responsáveis pelo filho do vizinho, nem pelo cunhado folgado, constatar sua irresponsabilidade é um simples exercício de observar o outro, o de fora. Já com relação ao país em que vivemos, a coisa se complica: como não podemos atribuir imaturidade às montanhas, aos rios ou vales, ou falta de juízo às estradas, matas e nascentes, quando nos referimos ao Brasil, estamos falando de seus habitantes, todos eles, incluindo nós mesmos. Mas, não é isso que acontece. Falamos do Brasil, apenas, como se não estivéssemos incluídos nele, como se ele fosse uma entidade externa, uma figura mítica, a respeito da qual, obviamente, não temos a menor responsabilidade.
É como se tivéssemos dois brasis, um nosso, privado, que com galhardia, tentamos sustentar, e o outro, coletivo, aquele que “não tem jeito”, que está sendo, historicamente, destruído pelo conjunto de brasileiros (menos nós). Para os ricos, a culpa é do “povinho”; para os pobres, é das “elites”; para os profissionais liberais, a culpa é dos “funcionários públicos”.
Para esses, de fato, o Brasil nunca conseguirá ter jeito. Doses maciças de cidadania e mobilização talvez possam alertar os brasileiros para a responsabilidade de cada um na busca de um Brasil que pode tomar juízo, ou seja, de um Brasil comprometido com o desenvolvimento integral de seu povo.
(Jaime Pinsky. O Brasil tem futuro? São Paulo: Contexto, 2006, pp. 17-18. Adaptado.).
A finalidade pretendida pelo Texto 1 é mostrar que o Brasil "tomará jeito" se:
o jovem se dedicar com empenho ao estudo.
as horas de trabalho forem levadas a sério.
observarmos os outros, ou seja, os "de fora".
houver entendimento entre as camadas sociais.
cada um de nós se sentir a ele pertencendo.