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A DETERIORAÇÃO DA LINGUAGEM JORNALÍSTICA I. ______ uma semana do encerramento deste que...

A DETERIORAÇÃO DA LINGUAGEM JORNALÍSTICA


I. ______ uma semana do encerramento deste que foi um dos anos mais intensos do jornalismo no Brasil, é preciso colocar em discussão uma questão que a imprensa evita o quanto pode: a linguagem jornalística dá conta de decifrar adequadamente a realidade?


II. Analisada contra o cenário deteriorado da mídia brasileira, a pergunta pode parecer impertinente e até mesmo cândida, uma vez que o campo da comunicação institucionalizada se deixou contaminar por outros vícios, que levaram ao fim da ilusão da objetividade e do pressuposto da honestidade intelectual como princípios fundadores da imprensa.


III. _____ muitos outros aspectos a serem contemplados numa análise do que vem a ser o jornalismo nesse contexto, em que uma tecnologia de ruptura se impõe ao mesmo tempo em que a gestão dos principais veículos da mídia tradicional se concentra e verticaliza. Esse movimento do sistema da imprensa para dentro de si mesmo bloqueia a inovação e condiciona as iniciativas a uma doutrina que em tudo é contrária ao espírito de liberdade do jornalismo.


IV. A doutrina conservadora que domina a imprensa no Brasil levanta um muro de contenção para a criatividade, desestimula os espíritos livres e encoraja a mediocridade com melhores oportunidades de carreira. O fato de que os nomes mais lustrosos da mídia nacional, aqueles que mais vezes conquistam o espaço nobre dos noticiários, são justamente os que cumprem com entusiasmo o trabalho sujo da manipulação, é causa de empobrecimento da cultura jornalística. Existem, mas são raros os profissionais que, deslocando-se da orientação centralizadora, ganham distinção pelo trabalho independente e de qualidade.


V. ____(A)____ a gestão vertical e centralizadora resulta num jornalismo mais pobre, burocrático e em linha direta com a opinião do comando das empresas de comunicação? ____(B)____ a atividade jornalística exige que, na origem, o material que vai compor o noticiário e o conjunto de opiniões seja colhido livremente, condicionado apenas pela ética - e seja trabalhado até a edição final sob o crivo das múltiplas possibilidades de interpretação.


VI. A observação diária e por longo prazo da mídia tradicional no Brasil induz a concluir que a ligação direta entre os donos das empresas e as bases da redação limita as possibilidades de interpretação dos acontecimentos.


VII. Décadas atrás, quando as redações eram caracterizadas pela diversidade, o debate se fazia desde a pré-pauta, e os repórteres tinham um papel mais ativo na discussão sobre o que era importante em cada edição. Com as principais reportagens direcionadas desde a pauta até a manchete, o sinal que se dá aos repórteres é que, se quiserem subir na carreira, têm que ser principalmente dóceis ao comando. Esse é um elemento limitador da linguagem jornalística.


CLIC


Cidadão se descuidou e roubaram seu celular. Como era um executivo e não sabia viver sem celular, ficou furioso. Deu parte do roubo, depois teve uma ideia. Ligou para o número do telefone, atendeu uma mulher.

- Aloa.

- Quem fala?

- Com quem quer falar?

- O dono desse telefone.

- Ele não pode atender.

- Quer chama-lo, por favor?

- Ele está no banheiro. Eu posso anotar o recado?

- Bate na porta e chama esse vagabundo agora.

Clic. A mulher desligou. O cidadão controlou-se. ligou de novo.

- Aloa

- Escute. Desculpe o jeito que falei antes. Eu preciso falar com ele, viu? É urgente.

- Ele já vai sair do banheiro.

- Como é seu nome?

- Quem quer saber?

O cidadão inventou um nome.

- Taborda. Sou primo dele.

- Primo do Amleto?

- É. de Quarai.

- Vem cá. Como você sabia o número do telefone dele? ele recém comprou !

Extraído e compilado da obra de Luiz Fernando Veríssimo - As mentiras que os homens contam, Editora Objetiva, 2000.


Analisando-se os dois textos apresentados, podemos afirmar que:

A

o primeiro texto, de autoria de Luciano Martins Consta é um texto dissertativo do tipo não argumentativo, no qual não observamos a tentativa de influenciar o leitor; o segundo, de veríssimo, trata-se também de um texto dissertativo, porém de caráter argumentativo.

B

a presença de personagens e elementos de clímax permite-nos desclassificar o texto de Luiz Fernando Veríssimo como uma crônica narrativa; o de Luciano Martins Costa, por sua vez, no qual há predominância da utilização do predicado verbal, bem como o emprego de metáforas e comparações, como descritivo.

C

O de Luciano Martins Costa é um texto dissertativo argumentativo, nele inferimos pontos de vista do autor a respeito do assunto tratado; já o de Luis Fernando Veríssimo melhor se enquadra no estilo narrativo, com a presença de personagens, espaço e tempo.

D

em ambos os textos observamos a presença de elementos narrativos, descritivos e dissertativos.