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Leia o texto com atenção para responder às questões de 1 a 10.Os parágrafos foram numer...

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Q1496104
Teclas de Atalhos
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Ano: 2016
Prova: FURB - Prefeitura - Assistente Social - 2016

Leia o texto com atenção para responder às questões de 1 a 10.

Os parágrafos foram numerados de 1 a 18.


A GUERRA DOS MAUS E DOS BONS

1 Por que será que o mal vence (ou parece vencer) o bem?

2 Se o bem é tão bom, por que o mal, que é mau, vive acuando o bem?

3 Se o bem causa prazer e o mal causa dor, ansiedade, pânico, horror e morte, por que os seres humanos não derrotam o mal com o bem?

4 Lembro-me de ter lido, há muito, um texto de Bertrand Russel sobre o mal que os bons fazem. Era algo intrigante e me assustei quando li isso a primeira vez. Então, alguém com as melhores intenções pode desencadear dramas e tragédias? O inferno está mesmo cheio de boas intenções?

5 Quando foi que o bem ganhou uma guerra?

6 Essa já é uma pergunta insidiosa, pois quem se mete numa guerra para lutar tem que sangrar e matar, e isso é o mal em sua forma mais dura. Foi assim nas Cruzadas, foi assim na Inquisição, foi assim nas guerras de independência, foi assim nos conflitos contra o nazismo e outros totalitarismos. O guerrilheiro vem com aquele papo de Guevara, de que tem que matar sem perder a ternura; tem gente que acha isso bonito, desde que seja ele a exercer a “ternura” sobre outros.

7 Sim, tem o caso de Gandhi, que moveu guerra pacífica contra o violento e opressor império britânico e ganhou. Isso nos dá algum alento. Mas por que será que o mal vence (ou parece vencer), como atestam diariamente os jornais?

8 Cabisbaixo, sussurro para mim mesmo: essa é uma luta desigual.

9 É aí a raiz do problema. A luta entre bem e mal é uma luta desigual, repito. O bem não pode, não deve usar as armas do mal e está eticamente impedido de fazê-lo. Se o bem usar as armas do mal, transforma-se em mal. Sim, há o caso da “legítima defesa”, a hora em que o instinto de vida se sobrepõe ao instinto de morte. Isso tanto no plano pessoal quanto nas guerras de resistência. Mas aí, o mal e o bem de novo se misturaram.

10 E como se misturam! Então, não há uma porção de registros históricos da luta entre o bem e o bem? Um bem que se julga mais bem que o outro bem e que se julga tão mais bem que o outro bem que, para ele, o outro bem é o mal.

11 Salomão asseverou e Freud confirmou. “O homem é mau desde a sua meninice”. Que fazer? Ambos eram sábios. E nós?

12 Há males que vêm para o bem? Há. Dizem. Então, nesse caso, o mal é um bem, logo o mal não é tão mau assim.

13 Posso combater o mal só com as armas do bem?

14 Se subirmos os morros e conversarmos franciscanamente com o tráfico, como vai ser? Talvez facilite se eu subir o morro levando saúde, escolas, moradia e outras formas de bem. Acredito até que a maioria da população agradeça, feliz, e volte a acreditar no bem. Mas haverá sempre alguém, um núcleo que faz do mal o seu modo de vida. Talvez não somente porque tais pessoas sejam de natureza perversa, mas porque o mal produz resultados mais rápidos. Na corrida entre o bem e o mal, o bem é a tartaruga e o mal é Aquiles. Mas, quem sabe, haja alguma esperança, já que na Grécia um filósofo andou dizendo que Aquiles não alcançará jamais a tartaruga...

15 É uma aposta ou um simples paradoxo de Zenão?*

16 O que é o mal para mim é o mal para você? Bem ou mal, somos todos bons e maus.

17 Bem, não sei se fiz bem em começar este texto. E como não há mal que sempre dure, fico por aqui.

18 Ainda bem.

(SANT’ANNA, Affonso Romano de. Estado de Minas ─ Cultura ─ 22/7/2007. Adaptado)


* Zenão (séc. V a.C.): Filósofo grego, criador da dialética. Inventou uma parábola em que, numa corrida, caso a tartaruga saísse na frente, Aquiles jamais a alcançaria, pelo simples fato de que não existe movimento e nem tempo ─ o que traz em si a eterna contradição.




Tendo em vista o raciocínio desenvolvido no texto, a pergunta “Quando foi que o bem ganhou uma guerra?” (5º parágrafo) é considerada capciosa ou insidiosa porque teria a seguinte resposta (assinale a alternativa correta):


A

Jamais ganhou: porque os seres humanos não derrotam o mal com o bem.


B

Depende: se o que vale é a intenção, o bem terá vencido usando “as armas do mal”, justificando, assim, “o mal que os bons fazem”.


C

Sempre ganha: desde que não se perca a ternura, vale matar em nome de um ideal.


D

Nunca: se numa guerra a gente “tem que sangrar e matar”, quem ganhar terá deixado de ser bom.


E

Quase nunca: observa-se que o mal sempre vence, conforme “atestam diariamente os jornais”.