TEXTO I
Miss Marvel e o Conflito de Gerações
Guilherme Smee
O segundo volume de Miss Marvel, intitulado Questões
Mil no nosso país e Generation Why, lá nos states, trata
disso mesmo que o título diz: o conflito entre gerações. Nada
mais justo, uma vez que Kamala Khan, a Miss Marvel,
5 pertence à mais novíssima geração. A geração Z – a geração
zapping – que nasceu a partir do novo século. Mas vem
comigo que eu te explico tudo isso.
[...]
Depois da Segunda Guerra Mundial, os soldados
10 estavam muito afoitos para voltar ao seu lar e produziram
uma explosão de bebês – a chamada geração dos baby
boomers. São pessoas que hoje tem por volta de 60 anos,
como meus pais. A geração que veio depois, foi a geração
X, filhos de Woodstock, o verão do amor, quando tudo era
15 permitido. Era a primeira vez que a mídia e a publicidade se
voltavam para a juventude. Os filhos dessa geração – e à
qual eu pertenço – são a geração Y, para a qual a mídia e a
publicidade promoveram a infância perfeita, pois era a
primeira vez que existiam programas e produtos voltados
20 exclusivamente para as crianças. A geração Z – ou os
millennials – são aqueles que estão plugados à internet
desde que nasceram, com um raciocínio muito mais rápido
do que qualquer geração e mais preparada para enfrentar e
aceitar as mudanças do mundo. Eles estão plugados a um
25 novo tipo de mídia difícil de ser aceito para as velhas
gerações: os youtubers.
[...]
O roteiro [de Miss Marvel], escrito pela americana
convertida ao islã, G. Willow Wilson, e desenhado por Adrian
30 Alphona, mostra que Kamala tem de ler um artigo de um
escritor de uma revista chamada O Pedante Mensal que
afirma que "adolescentes são apenas parasitas viciados em
seus smartphones e que não contribuem com a sociedade".
Ao que Kamala responde que desistir da próxima geração é
35 desistir do futuro e que a próxima geração sempre tem de
lidar com os problemas que a anterior deixou.
Ela questiona aos adolescentes: "Devemos cair fora
para os adultos poderem torrar seus ares-condicionados e
cartões de créditos sem esquentar com o futuro?". E então
40 Kamala convence os amigos a não se sacrificarem e a se
tornarem cidadãos atuantes, estudando e se tornando gente
de valor, que pode mudar esse rumo. "A mídia nos odeia
porque a gente lê nos nossos smartphones. Os economistas
nos odeiam porque a gente troca as coisas em vez de
45 comprar. Não foi a gente que bagunçou a economia ou o planeta".
E o vilão, o Inventor, um homem com cabeça de
passarinho – literalmente – ainda ressoa esse discurso
dizendo que os adolescentes ouvem que suas vidas são
50 baratas desde o momento em que nasceram. E ele? Bem,
ele só deu um jeito de darem valor por suas vidas. Isso é
realmente o que nossos pais e as pessoas das gerações
anteriores à nossa nos querem – e nos fazem pensar – que
nós não valemos nada e que só aquilo que eles gostam e
55 pensam é importante e válido. Mas é pura balela. E é papo
de supervilão. Desrespeitar uma geração é tão feio como ser
racista, homofóbico ou machista.
Ou, nas palavras do vilão: "Os jovens são vistos como
um fardo político, um incômodo público. Eles não são
60 considerados de serem educados ou protegidos. São
chamados de parasitas, sanguessugas, pirralhos, pestes...
Se você usasse essas palavras para descrever qualquer
outra minoria que não as crianças, seria considerado muito
compreensivamente discurso de ódio. Estamos
65 simplesmente levando esse discurso à sua conclusão
lógica". Ou seja, preconceito com gerações é discurso de
supervilões, viram, seus caquéticos? Oooopa... Rá!
Respeito é bom e todo mundo gosta. Sejam novos,
sejam velhos, seja o que for. As opiniões devem ser
70 respeitadas. Principalmente esse pessoal dos quadrinhos
que diz que hoje em dia não tem histórias boas. Existem
histórias boas sim, só que, amigo e amiga, na época em que
vocês descobriram os gibis tudo era mais fascinante pois
você estava descobrindo-os. Dê uma chance aos da nova
75 geração terem o mesmo maravilhamento que você teve nas
coisas do seu tempo. Pois nem todas HQs dos anos 80 e
muito menos dos anos 90 eram uma virtuose. Mais respeito,
por favor. Mais amor, por favor.
*Woodstock – Foi um festival de música realizado em agosto de 1969, no estado de Nova York (EUA). O festival exemplificou a era da contracultura (movimento de mobilização e contestação social que utilizava os meios de comunicação em massa) do final da década de 1960 e início de 1970.
(https://splashpages.wordpress.com/2016/08/01/miss-marvel-e-oconflito-de-geracoes/. Acesso em: 14/03/2023). Adaptado.
TEXTO II
Abaixo, você lerá uma tira da personagem Mafalda, criada pelo cartunista argentino Quino.
(www.clubedamafalda.blogspot.com/2007/11/tirinha406.html#.YEVYEZ1KhPy. Acesso em: 13/03/2023)
TEXTO III
Calvin e Haroldo é uma série de tiras humorísticas escrita e ilustrada pelo autor norte-americano Bill Watterson.
(https://cultura.estadao.com.br/galerias/geral,20-tiras-de-calvin-eharold-para-refletir-sobre-a-vida-e-sobre-o-mundo,28507. Acesso em: 14/03/2023)
TEXTO IV
Conflito de Gerações
Fernando Bonassi
Um dia me aparece de tatuagem. Borboleta. Lá onde eu
nem sei falar sem dizer sujo. Vi sem querer, espiando
banho. Quando, com quem e como, Deus me livre de
saber. Então ficou ouvindo essa música de batedeira.
5 Chacoalhando a cabeça até dar co’armário e sangue
espirrar longe. Acidente, pensei. Agora não acho. Depois
isso pendurado n’umbigo... Agora o brinco na língua.
Bolinha que o pai deu quando tinha mês. Assim se beija?
E olho roxo, cabelo sujo, ranho. Ferida cavocada é o
10 bonito. Conversar a gente tenta... mas precisa de dois,
não é mesmo?
*cavocada: cavoucada - mexida, cutucada
(BONASSI, Fernando. “Conflito de gerações”. In: 100 Coisas. 1. ed. São Paulo: Editora Angra. 2000)
Considere o seguinte trecho do verbete “grupo social”, extraído de um dicionário:
“/.../ Em cada grupo há padrões de comportamento que representam experiências acumuladas e servem como diretrizes de conduta pessoal. A homogeneidade de atitudes faz surgir, nos membros do grupo, a consciência da própria semelhança e da diferença com relação a outros grupos. Os conceitos de in-group ou we-group em confronto com o out-group são manifestações da chamada consciência coletiva.”
(Dicionário de sociologia. Porto Alegre: Editora Globo, 1961, p. 162)
Aplicando-se a explicação do verbete aos textos desta prova, é possível constatar que o confronto entre componentes do in-group e out-group expressa-se entre os seguintes personagens, EXCETO:
Calvin e seu pai (texto III).
Mafalda e Susanita (texto II).
Miss Marvel e o escritor da revista O Pedante Mensal (texto I).
O emissor da mensagem e a pessoa de quem se fala (texto IV).