Uma servidora pública de 52 anos de idade procura atendimento de emergência com quadro de aumento do volume abdominal com três meses de evolução, associado a ictérica de escleras, edema de membros inferiores (MMII), astenia e fadiga progressivas e dificuldade respiratória. Antecedentes de transfusão de sangue na década de 80 após acidente automobilístico. Ao exame físico: presença de ascite volumosa, aranhas vasculares em dorso, eritema palmar nas mãos e edema de MMII com cacifo. Aos exames laboratoriais: Na = 127 mEq/dL (VR = 135-145), albumina = 2,9 mg/dL (VR = 3,5-4,5), hemoglobina = 11 mg/dL (VR = 12-14), hematócrito = 35% (VR = 35-45), VCM = 89 (VR = 80-100), contagem de plaquetas = 80.000/mm3 (VR = 145.000-450.000), ureia = 34 mg/dL (VR = 20-40), creatinina = 1,0 mg/dL (VR = 0,6-1,5), TAP = 16 segundos (VR = 11 s-13 s), TTPA = 45 segundos (VR = 28 s-30 s), bilirrubina total = 5,0 mg/dL (VR = 0,8-1,0) (com bilirrubina direta = 4,5 mg/dL).
A icterícia sugere lesão em vesícula biliar como motivo da ascite, assim, uma colangiorressonância deve ser solicitada para diferenciar quadros colestáticos obstrutivos entre as causas da ascite.
O diagnóstico provável dessa paciente é cirrose hepática, sendo a principal hipótese causal contaminação pela hepatite C, e o manejo adequado com paracentese de alívio seguida de medidas de investigação do grau de hipertensão portal.
Os achados semiológicos apresentados no caso são sugestivos de hepatocarcinoma como complicação de cirrose hepática, sendo importante questionamento a respeito de abuso de álcool na história da paciente.
A administração de diuréticos tiazídicos associados ao uso de betabloqueadores melhora a pré-carga cardíaca nesses casos, estimulando a taxa de filtração glomerular e diminuindo ascite.
A paracentese de alívio deve ser feita com intuito de alívio dos sintomas respiratórios, sendo a reposição de plasma fresco congelado uma terapia aceitável como expansor volêmico e controle hemorrágico nesse caso.