Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se do lugar que permanece imóvel. Seus olhos estão arregalados, sua boca e suas asas prontas para voar. Tal é o aspecto que deve ter necessariamente o anjo da história. Ele tem o rosto voltado para o passado. Onde diante de nós aparece uma série de eventos, ele não vê senão uma só e única catástrofe, que não cessa de amontoar ruínas sobre ruínas e as joga a seus pés. Ele bem que gostaria de se deter, acordar os mortos e reunir os vencidos. Mas do paraíso sopra uma tempestade que abate suas asas, tão forte que o anjo não pode tornar a fechá-las. Essa tempestade o empurra incessantemente para o futuro, para o qual ele tem as costas voltadas, enquanto diante dele as ruínas se acumulam até o céu. Essa tempestade é o que nós denominamos progresso.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
A descrição de Walter Benjamin discute o conceito de História e sugere que
a narrativa histórica deve ser constituída por um conceito de passado inalterável, exposto em “permanece imóvel”.
os acontecimentos históricos se expressam através de uma linearidade temporal, identificado em “uma série de eventos”.
a releitura do passado é uma premissa básica do conhecimento histórico, interpretado em “o rosto voltado para o passado”.
o tempo histórico abrange as especificidades experimentadas pelos grupos sociais dominantes, afirmado em “reunir os vencidos”.
o conceito de progresso é associado à prática religiosa cristã, revelado em “do paraíso sopra uma tempestade que abate suas asas”.