Eu vi o que você apagou

Por Claudia Tajes

Minha amiga e parceira de livro, a Diana Corso, sugeriu um tema: as mensagens apagadas
no WhatsApp. E não é que é um assunto premente?
Começa que a mensagem de WhatsApp é hoje a maior forma de comunicação da
humanidade, ao menos nos países em que o WhatsApp foi incorporado ___ vida de um jeito que
até parece não existir mais vida se ele sai do ar. Já viu o desespero que dá nas panes do
aplicativo? Parece que a gente está perdendo uma oportunidade, o cachorro, a loteria e um
parente, tudo ao mesmo tempo.
Pela ordem, os países que mais usam o WhatsApp são: Índia, Brasil, Indonésia e Rússia.
Os chamados desenvolvidos, em que a telefonia é barata, seguem adeptos do velho SMS. É o
que informa o Google.
Por aqui, o WhatsApp é tão presente quanto boleto no fim do mês. Mais assíduo que o filho
na casa da mãe. Tão espaçoso quanto ex-BBB na mídia. A casa caindo e as manchetes só querem
saber da separação ou da consagração dos ex-BBBs. Não que eu tenha algo contra, claro, só
parece que o mundo é mais que isso.
Usa-se o WhatsApp para tudo, até para pedido de casamento. Proposta de trabalho,
felicitação de aniversário, comunicar uma má notícia, fazer piada, zoar os outros, dizer Eu Te
Amo no meio da tarde. Também é possível comprar coisas, qualquer que seja a coisa, pedir um
táxi, chamar comida, fazer matrícula, mandar flores.
Nas relações interpessoais, o que acontece muito é a má interpretação de texto. Alguém
próximo manda uma mensagem mei.... seca e a gente já fica mal, o que eu fiz para ser tratada
desse jeito? Em geral não aconteceu nada, a pessoa é que se expressa melhor ao vivo do que
por escrito. Só que, até chegar ___ essa conclusão, a cabeça já viajou por todas as hipóteses
possíveis. Não que não seja comum usar o WhatsApp para dar patada. Cada desaforo que chega
do nada, credo. Alguns com tantos erros de português que nem dá para entender o ....ingamento
em todo o seu esplendor. E onde entra a mensagem apagada nisso tudo?
Só pode ser por duas razões, engano ou arrependimento. No caso do engano, acho que o
mais comum é conversar com alguém em uma janela, receber a mensagem de outrem e
responder para quem se estava falando antes. Comigo acontece direto e é uma vergonha. ___
vezes nem dá tempo de apagar, e tomara que a mensagem errada não diga algo do tipo “agora
não posso, tô tentando me livrar do mala do Alcebíades”. Chato. Já o caso do arrependimento
pode ter várias razões.
Você foi querida demais. Você foi grossa demais. Você contou uma fofoca e, enquanto
enviava, anteviu as consequências. Você fez um convite e mudou de ideia. Você mandou a
figurinha errada. Etc., etc., etc.
Seja qual for a razão, quem vê o balãozinho com mensagem apagada fica com a pulga atrás
da orelha. Eu sempre fico. E, suprema falta de empatia, continuo apagando várias das
mensagens que mando.
É bom que agora há o recurso de editar os textos. Uso direto, principalmente para corrigir
erros de digitação. Recebo direto também. E sempre fico com aquela palpitação incômoda: o que
será que ele tinha dito antes de editar?

(Disponível em: www.gauchazh.clicrbs.com.br/donna/colunistas/claudia-tajes/noticia/2024/04/eu-vi-o-que-voce-apagou.html – texto adaptado especialmente para esta prova).

Assinale a alternativa que indica corretamente a função sintática da oração sublinhada ...